22.4.09

Espaço novo, experiência única, momento histórico!



Foi mais ou menos assim que vi o Morumbi no último domingo. Estive no estádio para apoiar o meu, o nosso, amado Tricolor em duelo contra um dos rivais mais tradicionais de nossa história. O clima nos arredores do estádio era positivo, a torcida estava confiante na reversão do placar da primeira semifinal, as bandeiras asteadas, as camisas que ostentavam o orgulho de ser Tricolor... tudo era nosso por ali.

Ao entrar no estádio, a torcida cantava empolgada. Até na fila dos banheiros, o que havia eram gritos de apoio, cânticos de jogo, hino do São Paulo. Todos demonstravam um ar de força e o ambiente se tornava muito agradável ao passar do tempo. O jogo se aproximava e a ansiedade aumentava. Não é um torneio que muito nos atrai, mas era um clássico, e poderia dar um moral altíssimo para o time. Vencer um clássico, ainda mais em semifinal (mata-mata), de um torneio que durante muito tempo o SPFC não deu a mínima importância... seria bom demais.

O primeiro tempo de jogo foi muito bom, a meu ver, por ter notado bastante movimentação do time. Washington perdeu pelo menos 3 oportunidades claras de gol, num total de 5 chances (2 não fez gols mas, pra mim, por qualidade da defesa). O time movimentava bem a bola, com excessão do sumido (há jogos e mais jogos) Hernanes. Jorge Wagner corria por todo campo, dando opções aos jogadores de ataque, zaga e meio campo. Borges puxava a marcação e acabava desaparecendo. Dagoberto corria por todos os lados, criava jogadas, mas a bola chegava e não entrava. Hernanes arriscou pouquíssimas jogadas e, quando não perdeu a bola, tocou de lado, sem objetividade nenhuma, ou então chutou, pra variar, de fora da área e pra fora do gol.

Não estava dando certo, apesar do volume de jogo. No começo do segundo tempo, algo me fez pensar "no pior". Uma bola na trave, após lance de bola aérea. Na verdade, deveria fazer-me acreditar na pressão tricolor. Mas foi como aquele sinal de "hoje a bola não vai entrar pra nós". E não deu outra, após muito tempo de nervosismo e tensão, o Corinthians, em contra-ataque, marcou o primeiro gol da partida. Um baque, um choque, um tiro no pé dos são paulinos (jogadores e torcedores). O SPFC precisava reverter um resultado maior ainda. Não bastava mais apenas um gol, deveria fazer 2, e o peso da responsabilidade e da missão pareceu ter sido grande demais. Em questão de dois minutos, em novo contra-ataque, bola nas costas da zaga (Rodrigo), e Ronaldo, bem posicionado, marcou o dele. Era o que faltava para o morto deitar.

O que restava de espírito de luta não adiantava mais, pois tudo se traduzia em desespero. Dagoberto, eu via de lá de cima nas arquibancadas, olhava desolado e corria para todos os lados, na esperança de tentar mudar o placar, mas era em vão. Naquele instante o Morumbi se calava e apenas a torcida alvinegra cantava. Cantava. Cantava. E cantava cada vez mais alto.

Cantaram tanto, mas tanto, que o sentimento de injúria se tornava cada vez mais forte. A massa são paulina se entre-olhava na esperança de inverter o barulho, fazer o mando de campo valer à pena, mesmo que perdêssemos o jogo. Cada agrupamento de torcedores amigos tentava, à sua maneira, reavivar o sentimento que os levou ao estádio. Alguns cantavam trechos do hino tricolor, outros xingavam os adversários, outros beijavam seus uniformes, fato é que ninguém se sentia menor e apenas pensava o que diabos acontecera naquela tarde de domingo. Eis que, muito depois de a torcida corinthiana gritar forte que o Morumbi era deles e que quem mandava lá eram eles, a torcida uniformizada mais famosa do time tricolor resolveu fazer alguma coisa e, como sabemos, alguns só agem após a atitude de alguns supostos líderes da massa.



A torcida Independente puxou, forte, o Hino mais belo do Mais Querido tricolor do mundo. O estádio inteiro entoou cada estrofe, verso, refrão, em uníssono, com todo o ar que cada um tinha nos pulmões. Quando a um faltou fôlego, o outro cantou por dois, e assim se seguiu. Foram 10 ou 15 minutos de cantoria intensa. Primeiro o Hino, depois "ô ô ô ô ô... é TrI-Co-LoR!". Dentre outros cânticos, a massa são paulina mostrava o porque o Morumbi é seu e do SPFC. Pela primeira vez voltei pra casa orgulhoso, não de ser são paulino, pois disso sempre tive orgulho extremo graças ao histórico do time mesmo, mas orgulhoso da torcida tricolor, que apesar de alguns abandonarem o estádio "cedo", a maioria permaneceu em pé e cantou até o final. O amor expresso intensamente, sem rodeios, de maneira mais natural possível. Expontâneo e único. Histórico. Diferente.

Mesmo após o apito final, todos saíram cantando, como se tivéssemos vencido um torneio. Não, não um torneio de fato, mas havíamos vencido um de nossos maiores inimigos históricos: o abandono nas situações adversas. Vencíamos a vergonha e reconhecíamos nossa grandeza perante o mundo e nós mesmos. Sabíamos, ali, que nossa história e nosso amor pelo São Paulo não se restringe a uma ou duas derrotas ou vitórias, mas é muito maior que isso. Saímos, sim, tristes pela derrota, porém orgulhosos por nossa vitória fora de campo, a vitória de nosso sentimento pelo Maior, pelo Grande, aquele que "Dentre Os Grandes" é "O Primeiro".

"Óh, Tricolor! Clube Bem Amado
As Tuas Glórias Vêm Do Passado!"

Hoje, nossa história tem mais um capítulo, pela Libertadores da América. São Paulo x América de Cali em pleno Morumbi. Nosso palco, nossa casa, nosso estádio, nosso lar, nosso mando, nosso Coliseu, nosso orgulho, nosso símbolo, nosso gramado, nosso universo. É mais um passo rumo ao sonhado Tetra, sonhado desde pouco tempo, desde 2005, afinal, todo ano sonhamos com isso, pois todos os anos temos a chance de chegar nele, diferentemente de muitos. Vejo que hoje sairemos com a vitória no placar e chegaremos com boa campanha para a disputa de mata-mata na segunda fase do torneio. De qualquer forma, continuamos em nossa luta, e por isso hoje, em casa (estou enfermo), cantarei "Vamos, vamos Tricolor! Vamos não pára de lutar... Vamos, vamos Tricolor! Para sempre vou te amar!"

Força São Paulo, tu és minha paixão!

Um comentário:

Unknown disse...

cara, eu não sei o que comentar. me emociona esse relato. não tive vontade de chorar por causa da derrota. mas na hora que apareceu a torcida meus olhos se encheram de lágrimas. espero que seja a demonstração de um novo pensamento e forma de agir da nossa torcida.