19.5.08

Ser São Paulino

Afinal, o que é ser são paulino?!

Talvez seja mais simples definir o que é ser torcedor de qualquer outro “time grande” do estado de São Paulo do que definir o que representa o sentimento de ser Tricolor. Por exemplo, podemos pensar no sentimento de ser um torcedor do Sport Club Corinthians Paulista. Pensemos juntos: é o clube mais antigo do estado, uma agremiação esportiva de imensa tradição entre os trabalhadores da velha cidade de São Paulo em seu momento de maior mobilização popular, de origens italianas, através dos muitos imigrantes que aqui viviam. A história do Corinthians esteve sempre intimamente ligada às massas populares do estado de SP em todas as esferas, desde a esportiva à política. De 1910, em seu surgimento, aos episódios de 1981-82, nos quais jogadores (de certa forma, liderados por Sócrates – irmão de nosso ídolo, Raí) decidiram influir e participar das decisões do clube, em plena Ditadura Militar que aterrorizava o país, dando início ao período da chamada Democracia Corinthiana. De tal forma, o torcedor corinthiano tem, por sua história, a característica da popularidade, da simplicidade e da luta.

Em outro momento, na baixada litorânea, surgia em 1912 o Santos Futebol Clube, com origens muito semelhantes às do SC Corinthians Paulista e que se tornaria o primeiro clube brasileiro a ser Campeão do Mundo. Nos anos 60, foi o Santos o clube mais vitorioso, o mais glorificado e amado, se tornando, portanto, o clube mais conhecido em toda a história do futebol. Tinha como seu principal astro ninguém mais ninguém menos que o “Rei Pelé”, orquestrando uma sinfonia de futebol que contava com Pepe, Clodoaldo, Coutinho, dentre outros. Impossível não render-se à magia santista dos anos de ouro do clube, mesma década em que o Brasil entrava em um regime militar que significaria, por longo período, as sombras do povo brasileiro. Amargou longo período sem grandes conquistas até o surgimento de uma dupla que até hoje é sinônimo de futebol arte e categoria: Diego (Werder Bremen) e Robinho (Real Madrid).

A apenas 4 anos do surgimento do Sport Club Corinthians Paulista, no mesmo ano em que o mundo via o nascimento da Primeira Guerra Mundial, ergue-se uma nova associação esportiva de trabalhadores descendentes de italianos na capital paulista: o Palestra Itália. Um time de origens populares que tinha em suas cores a representação de uma nação estrangeira dentro de solos brasileiros. Um clube de muitas glórias que conheceu, em seu primeiro duelo contra o Corinthians, seu maior rival. O único clube que peitou de frente o Santos de Pelé, dividindo nos anos 60 os torneios conquistados pelo clube da baixada. Em 1942, sob pressões do governo de Getúlio Vargas, que decretara como proibido que clubes e agremiações utilizassem nomes estrangeiros, o nome do clube foi alterado para Sociedade Esportiva Palmeiras, tal qual os conhecemos até hoje. Um dos maiores vencedores do futebol paulista e brasileiro, o Palmeiras conquistou grande parte da população e até hoje é sinônimo de clube revelador, intimamente ligado às raízes italianas, apontadas, muitas vezes, como as alas mais conservadores do pensamento político e social italiano. Talvez por isso, também, a tamanha rivalidade com o Corinthians, que esteve sempre próximo às lutas populares mais de esquerda.

Eis que, apenas 20 anos depois do surgimento deste trio paulista, surgiria um novo clube, resultado de uniões e dissoluções de clubes como a Associação Atlética das Palmeiras, o Tietê e o Clube Atlético Paulistano (clube de Friedenreich, considerado melhor jogador brasileiro do início do século XX), em origens mais elitizadas, o São Paulo da Floresta. Apenas em 1933, assumiu-se como um clube de futebol profissional, após longo período de resistência. Penou, passou dificuldades financeiras, tendo perdido seus patrimônios devido a dívidas adquiridas até sua falência em 1934. Porém não seria seu fim decretado. O São Paulo se reergueria através dos esforços de sócios apaixonados pelo clube e, finalmente, em 16 de dezembro de 1935 viria a se constituir como São Paulo Futebol Clube, fazendo sua primeira partida apenas em 1936. Nos anos 30, foi o clube que encabeçou um “enfrentamento” simbólico ao realizar um desfile em pleno estádio do Pacaembu ostentando a bandeira do estado de São Paulo (importante ressaltar que o governo getulista proibira a ostentação de qualquer símbolo político que não fosse a bandeira nacional). Através de pesquisas, foi constatado que a grande maioria da população do estado de São Paulo simpatizava com o caçula dentre os clubes paulistanos, tornando-o assim “O Mais Querido”. Não foram poucas as dificuldades enfrentadas pelo clube, e sua determinação e força o fizeram tornar-se conhecido como o “Clube da Fé”. Amargou longos anos de fila durante os fins dos anos 50 e início dos anos 70 devido à construção do gigantesco “Coliseu” tricolor, o Cícero Pompeu de Toledo, vulgo “Morumbi” (devido sua localização).

A história do Tricolor Paulista está repleta de feras e grandes nomes do futebol como o “Diamante Negro” (Leônidas da Silva), Bauer, Roberto Dias, Serginho Chulapa, Oscar, Careca, Raí, Zetti, Müller, Toninho Cerezo, Pintado, Palhinha, Leonardo, Denílson, Dodô, Kaká (dentre outros), e os uruguaios Pedro Rocha, Pablo Forlán, Darío Pereyra e Diego Lugano. Foram muitos outros nomes que considero injusto não citar aqui, porém, limitar-me-ei a apenas esta seleção. O Tricolor Paulista, desde seu surgimento, esteve atrelado às camadas mais ricas e burguesas da sociedade paulistana, porém com o passar dos anos e décadas, esta característica foi desfeita e hoje o São Paulo é um dos clubes mais populares do Brasil. Com suas mais importantes conquistas (os Mundiais e os Continentais de 1992-93), o SPFC teve um enorme crescimento de torcedores e, assim, adquiriu imensa identificação com o torneio continental (a Libertadores da América).

A escola futebolística do SPFC tem suas características que lhe fazem peculiar e diferenciada das outras escolas paulistas. O São Paulo tem um histórico de futebol organizado, de estilo totalmente coletivo, sendo um clube que não se diferenciava por estrelas solitárias que fariam toda a diferença em um jogo, mas por possuir um conjunto sólido e solidário. Dono de um futebol elegante e envolvente, principalmente durante os tempos de Pedro Rocha (fim dos anos 70) e de Raí (início dos anos 90) sob o comando do maior de todos os técnicos, o Mestre Telê Santana, o SPFC se constituiu e, assim, formou uma cultura sobre futebol junto de seus apaixonados torcedores.

E eis que chego ao que interessa neste texto: o que é ser Tricolor?!

Após definir, a meu ver, como é o Glorioso Tricolor, acredito que ser são paulino é, antes de tudo, estar acostumado (mal acostumado) ao futebol elegante, bonito e vistoso. É querer sempre a perfeição e saber que esta não está em nossas mãos, mas sempre podemos estar perto dela, como já dizia Telê Santana. Ser tricolor é acreditar que, mesmo diante das mais terríveis adversidades, não iremos desistir das mais duras batalhas. É torcer por um time, um clube, uma nação internacional, intercontinental, mundial. Ser torcedor do São Paulo Futebol Clube é ser privilegiado por um futebol único e, de certa forma, místico. O futebol do Tricolor é diferente do dito “futebol brasileiro”, pois o futebol são paulino não é o futebol de estrelas, mas sim, o futebol de um grupo que vai desde o mais simples faxineiro do clube ao mais renomado jogador; o São Paulo não se faz com apenas um ótimo elenco, mas com toda uma equipe, assim como em um filme. por um espetáculo. O enredo da trajetória são paulina no futebol estadual, nacional, continental e mundial necessita de platéia, pois uma orquestra não tem sentido sem platéia, assim como a platéia clamaSer são paulino é saber que seu time é espetacular pois não é erguido sobre bases fracas para ostentar singulares momentos, mas sim, porque seu time é espetacular por ostentar uma glória eterna e sem limites, sobre uma base simples, porém sempre e muito sólida.

Ser são paulino é ser abençoado pelos deuses do futebol e, assim, acreditar e fazer de sua história, seu maior trunfo para construir novas conquistas, sendo eternamente, O Clube da Fé.

Um comentário:

Cá Minervino disse...

Oi Bru!! Adorei a iniciativa! Parabéns...

Tenho que reconhecer que os anos na facu te fizeram bem, falar dos rivais assim sem nenhuma resistência para dar uma panorama mais real do nosso TRIcolor foi perfeito!!!!!

Pode deixar que sempre vou voltar para comentar sobre esse clube que eu também amo tanto!!!

Amanhã é nóis no Maraca! ehehe

Beijos